Métodos de Equitação


François Baucher — Guerra Civil na Equitação Clássica


François Baucher (1796-1863) tornou-se conhecido com apresentações de Alta Escola em circos e picadeiros de Paris, introduziu ao ensino clássico as passagens de mão a galope e fez muitas demonstrações a cavalo. Grande cavaleiro e hábil treinador de cavalos, Baucher também foi uma personagem catalisadora da mais forte controvérsia da história da equitação académica. O famoso cavaleiro escreveu vários livros, dos quais o mais explosivo foi Método de Equitação Baseado em Novos Princípios. Este livro teve o poder de dividir a opinião pública francesa em duas facções: os Baucheristas, que admiravam os resultados espectaculares obtidos por François Baucher, e os anti-baucheristas, conhecidos como D'auristas, liderados pelo conde Antoine Cartier D'Aure. (O escritor Honoré de Balzac era d'aurista). Mas, afinal, quem era este homem que tinha a audácia de anunciar um novo método de equitação no centro equestre mais desenvolvido do mundo?  
François Baucher era natural de Versalhes e pouco se sabe da sua origem, provavelmente porque pouco há para contar. Alguns historiadores afirmam que ele nasceu perto da Escola Real de Equitação de Versalhes, e o próprio Baucher já declarou que assistia diariamente aos exercícios e desfiles lá realizados e que admirava, sobretudo, o ecuyer Conde d'Abzac (o mestre equitador da Escola de Versalhes) nas suas idas e vindas para as paradas militares. A vida profissional de Baucher começou sob a tutela do tio, num picadeiro de Milão.
Por volta de 1820, aos 24 anos, ele foi para Le Havre, na Bélgica, e lá assumiu o comando de um picadeiro em 1834, insatisfeito por achar que estava longe dos grandes centros equestres e possuído por um alto senso de missão para ensinar os métodos que estava desenvolvendo, Baucher mudou-se para Paris, lá se associou a um membro de uma ilustre família de cavaleiros, Jules Charles Pellier.
O novo sócio era proprietário de um circo picadeiro, uma nova forma de espectáculos circenses que, além das tradicionais apresentações de malabaristas, mágicos, domadores e palhaços, apresentava demonstrações equestres da Alta Escola. O circo picadeiro estava entrando na moda em Paris e, além de atrair muita gente, os espectáculos equestres começavam a atrair a nobreza, concorrendo com as óperas e os ballets.
Nesta época pós revolucionária, pós napoleónica e pós restauração dos Bourbons no trono da França, o país estava num turbilhão ideológico, com a nobreza ficando, aparentemente, mais burguesa e a burguesia ficando cada vez mais nobre, mas a crescente popularidade de Baucher, o burguês, nos espectáculos equestres do circo picadeiro começou a alinhá-lo, em rota de colisão, com outro cavaleiro famoso, o conde Antoine Cartier D'Aure, também defensor de uma nova equitação, menos voltada para os espectáculos e mais orientada para os desportos equestres praticados ao ar livre, em consonância com a equitação inglesa e prussiana. D'Aure foi o introdutor, na França, da sela inglesa, dos loros curtos e do trote elevado « Uma equitação avante, mais uma vez avante e avante novamente », como gostava de dizer. Era uma filosofia de equitação voltada para o desporto, que mobilizava muita gente, desde os tempos de Antoine de Pluvinel e François Robichon de la Guérinière, em 1840, Baucher e D'Aure eram duas locomotivas aproximando-se nos mesmos trilhos, em alta velocidade, mais cedo ou mais tarde haveria uma colisão ideológica entre os dois cavaleiros.
A publicação, em 1842, do livro Méthode d'Equitation e um convite a Baucher para ensinar o seu novo método nas academias militares de Paris, Saumur e Lunéville precipitou o sinistro. Baucher foi convidado a ensinar os seus métodos no exército francês entre 1842 e 1845, mas depois com a morte do seu padrinho, o duque D'Orleans e com a ascensão do irmão deste, o duque de Nemours, um D'aurista ferrenho para a chefia do comité de cavalaria francesa, aconteceu o inevitável: Caiu Baucher e subiu D'Aure, o protegido de Nemours, depois desta derrota política, François Baucher saiu de Paris e viajou pela Europa onde se apresentou em vários circos picadeiros, para plateias sempre entusiasmadas, então os dois cavaleiros, o burguês e o nobre,  tornaram-se adversários e críticos mútuos para o resto da vida, com um escrevendo e o outro desmentindo, em livros e folhetins sucessivos.
Mas nesta guerra de comunicação, quem levou a melhor foi Baucher, após a publicação do livro Método de Equitação, de François Baucher, o conde D'Aure escreveu uma crítica intitulada Observações Sobre o Novo Método, onde D'Aure simplesmente afirma que « o uso do cavalo, a equitação e os meios de controlá-lo são demasiadamente conhecidos para alguém chegar e anunciar que descobriu um novo método », mais adiante ele declara que « para alguém interpretar a equitação da maneira de Baucher esta pessoa nunca deve ter usado o cavalo fora do picadeiro ou do circo, que é bem diferente de praticar equitação no campo ». « Infelizmente »  continua D'Aure, « quando as técnicas de Grisone, Pluvinel, Newcastle e outros grandes cavaleiros do passado foram reintroduzidas na equitação clássica, foram usadas para treinar cavalos de circo. E agora, quando aparece alguém falando em ramener e rassembler as pessoas pensam que estão ouvindo e vendo coisas novas. Além do mais, fazer um cavalo mudar de pés, elevar as mãos, dançar e valsar, actividades que parecem novidade hoje em dia, já foi mostrado por Astley, Franconi e todos os organizadores de espectáculos equestres e até por Monsieur de Pluvinel, no seu famoso carrossel promovido para festejar o casamento de Maria de Medecis, com Henrique IV ». Toda esta confusão, reclamava D'Aure « produziu poucos resultados e só serviu para ferir os sentimentos de muita gente, além de dividir a opinião pública. Espero que este conflito provoque uma reacção que faça surgir a verdade ».
D'Aure estava evidentemente sendo o porta-voz de uma facção de cavaleiros melindrados com a fama de Baucher, mas é importante notar que nos seus ataques a Baucher e ao Novo Método, D'Aure, ao contrário de outros críticos, evitou desmerecer o talento e o valor artístico da equitação de Baucher, o que estava em discussão era a eficiência dos métodos de Baucher para o uso do cavalo fora do picadeiro, sobretudo nas competições desportivas de salto e equitação de campo.
Baucher, para se defender, partiu para o ataque, respondeu aos seus críticos escrevendo o seguinte, que « Se o meu método era conhecido antes de mim, por que não era praticado em toda a sua plenitude? Não existe um cavaleiro sequer que não prefira obter bons resultados de treino num dia, ao contrário de ter de esperar um mês », e acrescenta com ironia « Ou eles não entenderam ou fingiram não entender, porque não encontraram nos manuais do passado, as palavras correctas que correspondessem a este trabalho ».
A verdade é que Baucher foi o primeiro cavaleiro de Dressage a escrever um manual moderno sobre equitação. O « novo » não era tanto a equitação descrita no seu livro, o « novo » era sobretudo a sistematização do método e a linguagem técnica utilizada, Baucher conseguiu, impulsionado pelos novos conhecimentos da revolução industrial do século XIX, o que ninguém até então havia conseguido escrever uma obra académica sobre Dressage numa linguagem de grande aperfeiçoamento técnico, do ponto de vista da ciência mecânica. Entretanto, o verdadeiro problema foi que Baucher e D'Aure também confundiram equitação arte com equitação desportiva.
Baucher era claramente o artista e D'Aure era o desportista, e ambos se dedicaram a disciplinas equestres com objectivos diferentes, D'Aure percebeu intuitivamente que a fase da glória militar equestre estava em rápido desaparecimento e que o futuro da equitação estava nos desportos, além de grande cavaleiro, Baucher foi o grande comunicador da sua época, ele só não soube distinguir a diferença entre arte e desporto e assim evitar a confusão que o seu sucesso provocava entre os seus colegas de profissão, todos extremamente vaidosos e conservadores (como nós cavaleiros sempre fomos no passado, e continuaremos a ser no futuro).
Na resposta aos ataques de seus críticos Baucher escreveu um folheto intitulado « Respostas às Observações de M. D'Aure » onde ele, por sua vez, apontou erros graves no livro de D'Aure, intitulado « Tratado de Equitação » e mostrou que o autor, depois da publicação do livro de Baucher, apressou-se em reeditar a sua obra, corrigindo várias heresias contidas na primeira versão, e de fato, Baucher apanhou D'Aure em várias contradições tirando grande proveito disso. « Quanto às minhas apresentações em circos, Shakespeare e Molière também o faziam, para o engrandecimento do teatro inglês e francês » escreveu Baucher, com sarcasmo.

Tanto Baucher quanto D'Aure cansaram-se bastante com a « controvérsia do século », nome dado pelos jornalistas ao combate entre os dois, no final, quem saiu a ganhar foi a equitação clássica que, com os debates, tornou-se mais técnica e sobretudo, a França que se transformou novamente no principal centro equestre do mundo, posição que, no tempo de Baucher, havia sido ocupada pela Alemanha Prussiana.
O conde D'Aure foi, sem dúvida, um individualista e um inovador, foi o precursor do « show jumping » como disciplina equestre independente e Baucher, apesar do seu novo método, foi um continuador da alta escola, apesar de introduzir novos movimentos, como a mudança de pés a tempo no galope e obter grande flexibilidade e controle dos seus cavalos em apresentações espectaculares, o seu tipo de equitação manteve-se estacionário e orientado para o público espectador, como o de Pluvinel, Newcastle e La Guérinière nos séculos anteriores, mesmo introduzindo novas técnicas na equitação, nem D'Aure ou Baucher trouxeram qualquer modificação aos conceitos de equitação clássica, mas as suas diferenças de opinião representaram o divisor de águas onde o Dressage e o Salto tomaram caminhos distintos, o trabalho de D'Aure teve continuação com Caprilli e resultou nas provas de salto clássico, o trabalho de Baucher teve continuação com L'Hotte e Decarpentry e transformou-se na disciplina de Dressage moderna. 
Baucher ficou para a história da Equitação clássica como Leonardo Da Vinci ficou para a história das artes, foi dono de um génio inventivo e autor de uma obra inédita, completa e imortal. Contudo, a equitação clássica só deu um salto qualitativo com os conceitos revolucionários do capitão Federico Caprilli, que podem ter encerrado a Idade Mecânica da equitação, já no início do século 20.
 


MÉTODO DE BAUCHER

O método de Baucher veio alterar os conceitos de ensino do cavalo, « o cavalo após o nascimento de Baucher jamais será o mesmo » François Baucher foi o responsável pelo aparecimento de uma nova época e revolução no ensino do cavalo..


O MÉTODO

A PRIMEIRA MANEIRA

Forças Instintivas E Forças Transmitidas



1 -O princípio de base da flexibilização, transmissão e Flexão

Flexões - Recuar - Rotações

2 - O efeito conjunto e o « Rassembler »

« Reunião da todas as partes do cavalo que se desviam »

3 - A espora

« O cavalo que não esteja submisso estará imperfeitamente ensinado »



Flexões da Mandíbula e do Pescoço


A - Flexão lateral da mandíbula

B - Flexibilização do pescoço e a flexão directa da mandíbula

C - Flexão lateral do Pescoço

D - Flexão directa da mandíbula e do pescoço

E - Flexões laterais do pescoço estando a cavalo

F - Flexão directa da cabeça e do pescoço

G - Flexão directa da mandíbula a pé com o pescoço do cavalo elevado e a cabeça horizontal


A SEGUNDA MANEIRA


Posição do Cavaleiro

Mãos Sem Pernas e Pernas Sem Mãos

Os Diferentes Estados de Equilíbrio


« Se neste momento você montasse os meus antigos cavalos Partisan, Capitaine, Neptune e Buridan, tão admirados outrora, não os acharia ensinados, pois muito grande é a distância que os separa dos meus cavalos de agora. »