D. José Manuel da Cunha Menezes
Carta enviada a D. José Manuel da Cunha e Menezes pelo General Decarpentry
Eu vos
agradeço muito meu estimado amigo, a vossa carta, assim como os documentos que
teve a amabilidade de anexar.Permita-me que em primeiro lugar vos exprima toda
a minha admiração pelos resultados que obteve no ensino dos seus cavalos, em
particular com o cavalo cinzento em que o piaffer é um verdadeiro modelo.
Gostava
muito de vos lembrar que o meu estudo « Piaffer e Passage » não é a
apresentação de um método geral e exclusivo a estes dois ares, mas somente um
processo “ improvisado ” que eu proponho aos meus compatriotas devido ao
equilíbrio em que eles se encontram nesta época com os seus cavalos ensinados
com vista aos jogos olímpicos.
Tenho para
imprimir, na Suíça, um outro estudo intitulado « L’Equitation Académique » onde
o problema « Piaffer-Passage » é abordado de uma outra forma, muito mais geral
e com mais desenvolvimentos. Eu espero que em breve esteja disponível. Não sei
se leu no « L’Année Hippique » o artigo que aí escrevi sobre os jogos
olímpicos, onde tive a oportunidade de exprimir, com mais detalhes, tudo aquilo
que eu penso sobre a vossa equipa, que o não pude fazer em apenas algumas
linhas no L’Éperon.
Relativamente
ao vosso artigo, não existe uma só palavra com a qual eu não esteja totalmente
de acordo. Num dos capítulos de « L’Équitation Académique » eu insisto
precisamente de uma fora particular e com os mesmos termos que utilizou, sobre
a necessidade de ler e sobre a forma de fazer, não somente com os olhos mas
também com todos os recursos de espírito e de memória, que devem fornecer os
elementos de comparação mais fecundos.
Permita-me
por fim de assinalar à vossa atenção um livro ao qual eu creio poder atribuir
um grande valor e que difere inteiramente dos nossos métodos e dos nossos
processos « latinos ». Refiro-me ao livro « Gimnasium » de Steinbrecht. O livro
é bastante longo e por vezes difuso como são todas as obras alemãs, mas está
cheio de observações penetrantes e de ensinamentos de uma originalidade bem
característica dos cuidados germânicos em tudo que fazem, até mesmo na guerra,
ai !
Queira por
favor, meu estimado amigo, acreditar com os meus agradecimentos e as minhas
felicitações, a expressão dos meus sentimentos de muita sincera simpatia.
Decarpentry
Visconde Paço de Nespereira
Uma Opinião Oportuna
Visconde de Paço de
Nespereira fala sobre “ Meditações Dum Cavaleiro ” o recente livro de D. José
Manuel da Cunha Meneses.
O meu velho amigo e
parente D. José Manuel da Cunha e Meneses, Mestre insigne da Equitação fina,
quis dar-me a inexcedível honra de solicitar a minha opinião acerca dos seus
escritos sobre Equitação, agora compilados.
Hesitei perante o
aspecto insólito e até ridículo que pode revelar o facto de um discípulo vir a
publico emitir opinião sobre a obra do Mestre, tanto mais que em matéria de
equitação fui sempre apenas um caturra estudioso, estudioso por gosto e
necessidade, visto o destino ter-me deparado, para trabalhar, uma serie de
cavalos difíceis, um caturra que nunca conseguiu senão pouco mais do que tornar
alguns desses cavalos, calmos e ligeiros, agradáveis.
Um motivo, porem, me
decidiu, é que durante muitos anos consultei o Mestre D. José da Cunha Meneses
e nele encontrei sempre aquele espírito generoso e compreensivo só próprio dos
Mestres e das pessoas finas, e a sua resposta foi sempre a decisão do caso.
Não deixar de cumprir o
dever de afirmar isto publicamente, foi o motivo que me decidiu.
Monto a cavalo à
cinquenta anos e ainda há meses formulei a D. José Manuel quatro consultas
acerca dum cavalo que estou a trabalhar. Como sempre os seus conselhos
resolveram as dificuldades.
A equitação é ciência e
arte, ciência no sistema ordenado das suas leis, dos seus princípios induzidos
da observação e da experiência de inúmeros casos em referencia à mecânica dos
três andamentos, à estrutura, à configuração e ao equilíbrio do cavalo. Arte na
medida em que na aplicação dos princípios influem a habilidade, o tacto e a
finura do equitador.
Porque não há dois
cavalos iguais quando o equitador deduz aplicando ao caso particular o princípio
geral, surgem como em tudo, as dificuldades próprias de todo o casuísmo, visto
os princípios não terem a maleabilidade da régua « lésbica »
É então que o Mestre se
destaca descobrindo e sentindo a « nuance » o pormenor do caso e sabendo
soluciona-lo.
Foi nestes momentos que
encontrei sempre a decisiva competência do Mestre D. José Manuel da Cunha
Meneses.
Alguém repetiu a Baucher
a opinião então corrente em certo meio : O equitador perfeito seria o que
reunisse o « assiette » do conde D’Aure, as pernas de Lourent Franconi e a mão
de Baucher. O admirável Mestre respondeu : « Dites plutôt, la science de
Baucher, l’assiette, les jambes et la main de tout le monde ». Este episódio é
relatado pelo insigne Mestre General L’Hotte no seu encantador livro « Un Officier
de Cavalerie – Souvenirs du General L’Hotte ». Bela resposta a dar aos que
afirmam o valor exclusivo da sua prática, menosprezando desdenhosamente a
leitura e o estudo e ainda a outros que, tentando disfarçar a impotência da sua
ignorância, atribuem à paciência todo o valor no ensino dos cavalos.
A estas duas afirmações
referiu-se proficientemente o notável equitador Senhor Coronel Luís Almeida
Ribeiro, na interessante revista « Diana ». Foi com especial prazer que pela
primeira vez li referencias oportunas e justas a tais informações.
Os primeiros esquecem-se
de que as obras, os tratados sobre equitação publicados pelos mestres, revelam
também a prática desses mestres, a dos seus professores e a de muitos outros
autores por todos esses consultados. Não terá mais valor, como ensinamento,
esta prática esclarecida por método cientifico, prática de dezenas e dezenas de
Mestres, do que a pratica exclusivamente pessoal de cada um dos desdenhadores
de tratados ? Os segundos, munidos apenas de paciência, chegariam a centenários
esperando inútil e … pacientemente o mínimo resultado possível.
D. José Manuel é um
equitador perfeito, um verdadeiro mestre de Equitação, porque para tanto reúne
e alto grau, todas as condições necessárias, conhecimentos profundos e vastos
da ciência da equitação e dotes pessoais de artista, um tacto finíssimo na
aplicação dos seus conhecimentos.
A meu ver, D. José
Manuel é um rigoroso intérprete de Baucher, do definitivo Baucherismo, o da
última fase de tão grande mestre. Baucher, inovador, criador, trabalhou e
estudou e criou até ao fim da sua longa vida e nos últimos anos modificou em
parte o seu método. Este método tantas vezes subtil, tem sido perfeitamente
interpretado por D. José Manuel da Cunha e Meneses, como mais uma vez se verifica
pela leitura dos seus trabalhos, agora complilados.
Baucher, sábio e também
artista extraordinário, não era luminosamente claro a escrever. A sua
interpretação é difícil muitas vezes. Alguns que foram os seus mais dilectos
discípulos e seguiram até ao fim as suas lições, como os Generais L’Hotte e
Faverot de Kerbrech, atingiram mais límpida e didáctica clareza na exposição do
Método do seu idolatrado Mestre.
O trabalho de D. José
Manuel não é um tratado, mas sim uma compilação de artigos versando certos
pontos de equitação, alguns controvertidos, opinativos.
Creio que acerca de
todos o autor deu claramente a lição definitiva. Este conjunto de escritos de
D. José Manuel pelo seu valor, género, variedade e elevação dos assuntos,
lembra o interessantíssimo trabalho « Questions Equestres » e poderia
constituir, bem condignamente, uma série de capítulos a acrescentar aos XIV
capítulos dessa admirável obra do General L’Hotte.
É esta em síntese, a
minha inútil opinião acerca do notável trabalho do brilhante oficial de
cavalaria e egrégio Mestre de Equitação, D. José Manuel da Cunha e Meneses
Bertalan Nemethy
Bertalan Nemethy foi treinador da equipa de salto de
obstáculos dos EUA entre 1955 a 1980 tendo falecido16 de Janeiro de 2002 com a
idade de 90 anos.
Debaixo da sua direcção os EUA ganharam diversas
medalhas, nomeadamente de prata em 1960 nas Olimpíadas de Roma e em 1972 nas
Olimpíadas de Munique, nos jogos Pan americanos ganhou também várias medalhas
de ouro nos anos de 1959, 1963, 1975 e 1979, individualmente como treinador.
Nos jogos Pan Americanos ganhou medalhas com Mary
Mairs Chapot em 1963 e com Michael Matz em 1979, como treinador Nemethy
participou em 144 Taças das Nações e ganhou quase metade pois ganhou 71 vezes
essa competição, os seus cavaleiros individualmente ganharam grandes prémios
tanto nos EUA como internacionalmente.
As mais notáveis vitórias individuais foram a Medalha
de Ouro de Bill Steinkraus em 1968 na cidade do México nos Jogos Olímpicos e
com Neal Shapiro a medalha de Bronze em 1972 nas olimpíadas de Munique, também
a sua equipa ganhou da Federação Equestre Internacional (FEI) o President's
Trophy em 1966 e 1968.
Nemethy atingiu a sua grande notoriedade e
reconhecimento no salto de obstáculos em 1987, tendo sido feito membro “ Charter
Class ” juntamente com Bill Steinkraus e o lendário saltador Idle Dice.
Tendo sido oficial de cavalaria Húngaro e instrutor na
Real Escola de Cavalaria húngara, Nemethy foi para os E.U.A. em 1952 tendo se
tornado famoso por ter um regime de treino rígido para os cavaleiros americanos
dando principal ênfase no ensino e na ginástica.
Adicionalmente, Nemethy foi quem desenhou o percurso
notável para as Olimpíadas de Los Angeles em 1984 e em 1989 para a final da
taça das Nações.
Ele também ministrou muitas clínicas de treino em
Inglaterra, Irlanda, Suíça, Holanda, Hungria, Canadá, México, Argentina,
Venezuela e Colômbia
Brigadeiro Henrique Callado
Brigadeiro
Henrique Callado nasceu a 12 de Junho de 1920, a sua formação hípica foi
inicialmente transmitida pelos seus pais. Começou a sua participação em provas
desportivas como júnior aos 13 anos, concorrendo três anos depois como sénior.
A
primeira internacionalização ocorreu no Concurso de Madrid em 1943 e no ano
seguinte ganhou o respectivo Grande Prémio. Em 1958, sagrava-se campeão
nacional de hipismo. Integrado na equipa nacional, Henrique Callado disputou 22
Taças de Ouro da Península Ibérica, com vitórias em 16 edições, e 13 Taças das
Nações, sendo por dez vezes o melhor cavaleiro em prova: três em Lisboa, três
em Madrid, duas em Nice, uma em Roma e outra em Aachen. Participou também, na
modalidade de concurso de saltos, nos Jogos Olímpicos de Londres, Helsínquia,
Estocolmo (7o lugar), Roma (10o lugar) e Tóquio.
Em
concursos internacionais de obstáculos obteve um total de 134 vitórias em
competições realizadas em Madrid, Barcelona, Burgos, Bilbau, Corunha, Nice,
Dublin, Aachen, Roma, Lisboa, Cascais e Penina. Do seu palmarés salientam-se
também os triunfos em 62 Grandes Prémios, em três Taças do Generalismo, nas
Potências de Madrid (duas vezes) e de Nice, nos Prémios Campidogllo, em Roma,
no prémio do Principado do Mónaco, no Grande Prémio de França e, por três
vezes, no Prémio Bucephale, do Concurso de Nice, e ainda em dois Prémios do
Concurso de Dublin.
Foi
ainda recordista de Portugal em salto em altura com 2,20 m e em largura com
6,50 m, foi considerado o melhor cavaleiro desportivo Português de todos os
tempos, classificou-se mais de mil e duzentas vezes, das quais mais de três
centenas são vitórias.
Entre
os galardões que foram atribuídos a Henrique Callado contam-se as medalhas de
mérito desportivo, quer de Portugal quer de Espanha, a medalha de bronze da
Ordem Olímpica do Comité internacional, a medalha Nobre Guedes do Comité
Olímpico Português e o emblema de ouro da Federação Equestre Internacional.
D. Diogo De Bragança ( Lafões )
Foi o VIII Marquês de Marialva, nasceu a 14 de
Novembro de 1930, no Palácio do Grilo, em Lisboa, filho dos 5º Duques de Lafões
e Marqueses de Marialva. Desde muito jovem se interessou pelos cavalos tendo
sido um dos primeiros alunos diletantes do Mestre Nuno de Oliveira, considerado
pelo mestre um dos seus melhores alunos e com capacidade para abordar as altas
dificuldades da arte equestre com a maior finura.
Soube harmonizar as noções que adquiriu de uma forma muito
especial, conjugando uma equitação inteligente, feita no equilíbrio entre a
teoria permanente questionada e a prática primorosamente executada.
Publicou em França, " L'Equitation de Tradition Francaise
" livro este que recebeu os maiores elogios, de salientar a excelente
obra " ARTE EQUESTRE - Picaria Antiga Equitação Moderna " obra de
comparação histórica das várias escolas equestres existentes e abordagem
crítica e esclarecedora sobre o panorama equestre da equitação clássica. A sua
última obra " A Equitação em Dicionário Picaresco " revela mais uma
vez a sua faceta artística inserido na equitação ao mais alto nível.
Este eminente cavaleiro desaparecido a 07 de Novembro de 2012 será
sempre uma referência para todos os que pretendem abordar a equitação na sua
forma mais complexa e artística.
« Os Princípios Aplicam-se a todos os
Cavalos »
« A finalidade
da arte não é só montar o animal bem conformado, mas também tirar todo o
partido possível do que for menos bem dotado pela natureza » ( Hunersdorf )
Esta frase
parece ter hoje pouca aplicação, visto a equitação académica quase ser só
aplicada a animais de constituição perfeita, o que lhe tira o caracter de
generalidade apontado nas palavras deste autor alemão.
É de acordo com
este caracter geral que um écuyer será bom se consegue por um
cavalo perfeito de formas a fazer os ares mais difíceis da arte equestre, mas
também precisa de estar apto a ensinar um animal menos bem constituído, não
digo a fazer este ou aquele ar, mas, pelo menos, a equilibra-lo nos três
andamentos.
Qual das duas
tarefas será a mais difícil ? Explorar as qualidades do cavalo bom ou será que
é transformar um animal fisicamente menos apto numa montada equilibrada ?
Se não sei
responder à questão posta, quero contudo acentuar que esta faceta apaixonante,
que consiste em fazer do mau um bom cavalo, está quase posta de lado, visto
exigir muito mais gosto pela arte equestre e, portanto, um estudo e uma prática
muito maiores do que há hoje.
Dantes os
cavalos tinham que se ensinar e tornar agradáveis porque nem todos tinham
dinheiro para comprar animais perfeitos, mas hoje o gosto pela equitação só se
mantém um pouco naquela parte que se aplica aos cavalos bons…, pois são esses
que ganham prémios.
Se a equitação
fosse só isto, seria um privilégio dos ricos ! Não esqueçamos, porém, que são
as naturezas deficientes que desenvolvem a habilidade do cavaleiro, pois não é
montando « pêras doces » que o tacto equestre se afina, e sem este quantos
cavalos bons se põem de parte com o rótulo de maus !
Baucher viu
isto claramente ao escrever na 5ª edicção da Nouvelle Méthod, na
p. 266 o seguinte :
« Mas os
cavaleiros podem ambicionar resultados ainda mais brilhantes. Se conseguirem facilitar
a boa instrução dos cavalos medíocres, tornarão acessível às massas o
estudo da equitação, por colocarem ao alcance das pequenas economias, tão
numerosas no nosso país de igualdade, a prática de uma arte que até
hoje só pôde ser praticada pelas grandes fortunas. Foi esta a finalidade
dos meus trabalhos equestres durante toda a minha vida ».
As obras dos
mestres têm geralmente um defeito, só se aplicam inteiramente ao cavalo bem
conformado, e foi por ter consciência da dificuldade na aplicação correcta dos
seus excelentes princípios gerais que o General Decarpentry abriu capítulos
na Équitation Académique para o trabalho de pilões, com rédeas
longas e fixas, e em inúmeros parágrafos e chamadas explica muitas das
excepções à regra para a execução de um certo ar ou exercício.
A equitação
deve ser aplicável a todos os cavalos como arte que é, e não só aos de
configuração perfeita, mas para isso temos de admitir muitos desvios às regras,
conservando aquela meia dúzia de princípios fixos que o cavaleiro não pode
afastar do ensino ministrado às suas montadas. Como conhecer essas excepções ?
Desenvolvendo o tacto equestre por meio dos conselhos de um mestre, pela
leitura e prática constante.
Como dissemos
acima, o que hoje se procura é arranjar um cavalo bom para ganhar um prémio, e
se para isso já é preciso muita habilidade, mas, sobretudo, seguir um método,
não esqueçamos que para se ensinar uma natureza deficiente só o tacto equestre
elevado ao seu mais alto grau consegue resolver as dificuldades deste problema.